domingo, 18 de outubro de 2009

Boas Novas!

Ontem com a reunião de avaliação de gestão Boas Novas do DCE Luís Travassos (UFSC) realmente deu para sentir o clima de fim de gestão e principalmente de dever cumprido.

Segue o discurso de posse da nossa gestão só para deixar um gostinho de o que foi este ano maravilhoso na vida de quem participou dessa construção. Posso dizer que conheci ótimos militantes, aprendi muito com a militância no DCE e com as pessoas com que convivi e principalmente que conheci pessoas maravilhosas e fiz boas amizades. Obrigada a quem fez parte desta loucura!

Discurso de posse da gestão Boas Novas - 27/11/2008

“Boas novas! É tempo de ousar! Tempo de afirmar um movimento estudantil que esteja a altura do desafio da transformação da universidade e da sociedade. Um movimento estudantil que não se limite a reagir às investidas dos governos e das reitorias. Um movimento estudantil independente, propositivo, comprometido com os problemas cotidianos dos estudantes e portador de um novo horizonte para nossa universidade.”

Com essas palavras iniciamos nossa campanha para o DCE, há cerca de 1 mês. Um grupo de estudantes de diversos cursos se reuniram com um projeto ambicioso: recuperar a vitalidade da principal entidade estudantil da UFSC.

Não fizeram isso em negação à história do Movimento, ou pela necessidade de afirmar um projeto próprio. Apostaram, desde o início, na capacidade de reflexão daqueles a quem o DCE deveria sempre se remeter: a maioria dos estudantes, independente de seus centros de ensino. O grupo – agora gestão - “Boas Novas” teve sempre como ponto de partida a realidade do estudante em sala: a qualidade das aulas, seus conteúdos, as condições de permanência na Universidade, etc.

“Imediatismo”, diziam alguns! “Perda do horizonte estratégico da Universidade Pública”, vociferavam outros! Nada disso... Como bem sabem os companheiros dos Movimentos Sociais aqui presentes, a luta que não leve em conta o dia-a-dia das pessoas, seus interesses, suas necessidades mais sentidas, está condenada ao fracasso ou a um voluntarismo estéril. É preciso, antes de tudo, recuperar a legitimidade da entidade perante aos seus representados, mostrar que o DCE serve pra muita coisa, que tem capacidade de melhorar a vida do estudante, que pode ser um frutífero espaço de debate, de construção de idéias.

Fazer o DCE voltar a existir para os estudantes! Essa é a mudança de fundo. E é sobre ela que construiremos o projeto da universidade que acreditamos ser necessária ao país. Mas que universidade é esta que queremos construir?

Acima de tudo, uma universidade, como “máxima” casa do saber, deve ser um espaço preocupado com a reflexão e solução dos principais temas em sua volta. Além de pensar seu entorno, a universidade tem o dever de pensar seu país. No caso do Brasil, pensar um país atravessado pela desigualdade social, pelo racismo, pela concentração de terras, pela dependência econômica, cultural, científica e tecnológica. Enfim, um país subdesenvolvido que deveria ter na universidade um órgão impulsionador das soluções dos problemas de suas maiorias, do seu povo.

Essa vocação da universidade deveria ser exercitada pela liberdade de pensamento, pela liberdade de crítica, por condições iguais de desenvolvimento em todas as áreas das Ciências e das Artes.

Entretanto, a distância entre a vocação da universidade brasileira e sua realidade, é óbvia.

Imersa em um sistema de currículos fragmentados e pouco vinculados ao real, o debate nos cursos da universidade passam longe da realidade brasileira. Do CTC ao CFH, o que vemos em geral é a ausência de reflexão própria, dos problemas – já citados – fundamentais do país, e da busca por sua superação. O mesmo ocorre com a pesquisa e a extensão, onde a regra é a produção sem discussão estratégica dos resultados obtidos. Presas às pontuações da CAPES e CNPq – que, diga-se de passagem, beneficiam publicações “para fora” do país -, nossos resultados científicos refletem a condição subalterna da pesquisa produzida aqui: ausência de patentes, desprezo pelas ciências básicas, incapacidade de solucionar nossos problemas fundamentais. O que dizer a respeito do que ocorre com as enchentes hoje em nosso Estado? Qual foi a participação da UFSC na definição dos projetos de saneamento rodoviários e de prevenção das enchentes recorrentes no Vale do Itajaí? É um absurdo que o auxílio da UFSC se resuma a doações de mantimentos e deslocamentos ocasionais de técnicos especialistas!

Da mesma maneira, não podemos tolerar o precário orçamento do Governo Federal, que para a educação superior. Nossas bibliotecas defasadas, a existência dos xerox, a insuficiência de vagas na Moradia Estudantil, as filas no RU, são, antes de tudo, consequência dessa política. A plena autonomia só será conquistada com financiamento pleno e é só através do dele que garantiremos o caráter público de nossas universidades.

Outro ponto essencial para a consecução da promessa universitária é sua democracia interna. Como disseram os estudantes de Córdoba de 1918, nosso regime universitário está fundado sobre um direito divino: “o direito divino do professorado universitário”. A representação estudantil se resume a 1/5 das cadeiras de colegiados e conselhos. Temos que ocupá-las, é certo, e atuar de forma responsável nesses espaços. Mas devemos ter no horizonte sua ampliação, a busca da paridade e do voto universal, para que as demandas estudantis tenham condições iguais de discussão. principalmente pro sabermos que o novo na universidade tem surgido dos estudantes. Não estamos presos a uma rotina de trabalho restrita a esquemas de pontuação acadêmica que acabam prendendo os docentes em sua rotina. Somos mais livres para pensar e propor alternativas para superar a inércia que vivemos atualmente na academia.

A esta altura, alguns devem pensar que passamos do imediatismo ao idealismo. Nenhum dos dois.

O ME não pode se furtar da discussão sobre os rumos da universidade pública. ME sem um claro horizonte para a universidade, corre o risco de se perder em tarefas prosaicas e, portanto, deixar de ser “movimento”. Mas temos clareza de que um ano – período de nossa gestão – é pouco tempo. Temos os pés no chão, sabemos que toda longa caminhada começa com o primeiro passo.

Não somos o primeiro passo do Movimento Estudantil, é certo. Mas tentaremos dar o primeiro passo da recuperação do DCE Luís Travassos: recuperar sua presença no cotidiano dos estudantes, recuperar seu papel de entidade política formadora de opinião na UFSC e na cidade de Florianópolis, recuperar seu papel de vanguarda no debate sobre a produção de ciência, tecnologia, cultura e arte no país.

Essas são as Boas Novas! Um grupo de estudantes com a ambição de varrer o marasmo desta universidade. Trazer novos ares, novas idéias, novos projetos, novos rumos para o Movimento Estudantil da UFSC!

Muito Obrigado!"


Discurso de posse da Chapa 1 eleita para o DCE Luís Travassos . Gestão 2008/9 . Proferido por Tanay Gonçalves Notargiacomo. Universidade Federal de Santa Catarina. Sala dos Conselhos . Reitoria . Florianópolis, 27 de novembro de 2008.

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