quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Drummond que era sábio. Este sim sabia falar sobre o amor e as coisas do coração:

"Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."
Trecho de Amar, de Carlos Drummond de Andrade.

Sem tempo para escrever, só lendo muito.

(Eu, tu, ele, ela... Nós, só nós.)

sábado, 26 de setembro de 2009

Alguém tem um pouco de tempo para me doar ou vender?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Velha nova vida

Uísque, livros, cigarro. Sono, muito sono, vinte e três horas, cama. Acordo assustado, sete e meia. Levanto vagarosamente, com toda preguiça que se pode ter depois de passar a noite lendo. O sol já forte penetra o meu quarto através das frestas da janela, lembrando-me de que bebi demais na noite anterior. A janela velha já não fecha direito, preciso trocá-la, mas só de pensar no trabalho que me causará já me sinto cansado.
Preciso trabalhar. Olho no relógio e já estou atrasado. São oito e quarenta, estou ainda de pijama e de barba comprida. Nove horas. Vou ligar para o escritório e avisar que estou doente. Se perguntarem o que tenho direi que estou com febre e manchas vermelhas pelo corpo. Se pedirem que eu vá ao médico e traga um atestado, ligarei para aquele velho amigo de meu pai e pedirei um por correio. "Para três dias, por favor. O que tenho? Ah, não sei, qualquer doença meia-boca. Eles vão acreditar, é serviço público!" Pensando bem eles nem vão pedir atestado.
Ligo para meu chefe e a secretária me informa que ele ainda não chegou, talvez nem chegará. A simpática moça diz que passará o recado e anota meu nome e telefone. Acendo um cigarro, encho um copo de uísque e coloco um vinil para tocar. Adormeço e acordo duas horas depois com o som desligado e o copo de uísque derramado. Vou até a prateleira, foleio meia dúzia de livros até escolher um para ler. Leio três ou quatro páginas e o cheiro de livro velho e guardado faz-me recordar os meus planos de adolescente. Já tinha até escolhido o roteiro do meu mochilão pela América. Ah! Que saudade da minha juventude.
Trinta e três anos, a idade que dizem ser a de Cristo, uma idade para grandes atos. Grande ato! É disso que preciso, uma mudança, uma razão para continuar a sobreviver. Tiro do armário uma mochila daquelas de fazer trilha, tiro o pó acumulado há anos e coloco duas calças, algumas camisetas, cuecas e meias, calço meus tênis de corrida e saio de casa rumo à rodoviária. Não avisei ninguém, nem meus velhos pais. Vão me chamar de louco, vão dizer que não penso nas consequências ou vão pensar que morri? Mandarei um postal e tudo ficará bem...
Viver é preciso!

Talita Wuerges

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade