Um frio na barriga, um aperto no peito. Estou sobre o mar e as areias que por muito tempo foram meu refúgio constante. E ainda são, mesmo que mais espaçadamente.
Olho para o lado e na poltrona 4E está sentado um senhor desconhecido, lendo serenamente uma revista qualquer. Olho para o outro lado e vejo a ponta da asa e aquela imensidão que costumo chamar de paz: o mar... De cima a "minha" praia, que conheço cada palmo desde os meus primeiros anos, parece infinita. Tão infinita quanto o mundo que tento abraçar e nunca cabe entre minhas mãos.
Olhando para o tapete azul que agora se mistura com barcos e algumas nuvens, lembro da última vez tive a mesma vista. Foi em 2001 quando, em meus ingênuos 13 anos, parti para terras frias em uma breve temporada. Naquela época a dor da partida era para mim ligeira, quase indolor. Eu ainda não tinha experimentado me despedir de uma vez de tantas pessoas amadas. Muito menos tinha responsabilidades tão grandes sobre o meu destino.
Passam flashes em minha mente. Lembro-me de tantas partidas, tantos reencontros. Não entendo por que sempre forço tanto as despedidas. O coração, ao mesmo tempo que se rasga de dor, manda eu seguir, ir mais longe, voar mais alto. E é para mais alto que o avião segue. Subindo até desaparecer o azul do mar embaixo do branco das nuvens. O azul agora fica por conta da imensidão do céu. Adormeço.
Queria eu acordar e perceber que a dor foi só um sonho. Mas acordo já em terras alheias. Não estou em casa, mas é o que por hora tenho que chamar de casa. Algumas coisas não podemos escolher; outras escolhemos e acertamos; outras ainda são escolhas infelizes. Não sei se foi certa ou errada, mas a escolha que fiz com certeza me fez ver o mar, o céu e os dias de outra forma.
E agora, na companhia do álcool e do cigarro, eu só peço que o sono me carregue e faça esquecer essa dor.